sábado, 17 de setembro de 2016

Estações de uma Vida




Por mais mar que traga nos olhos
Por mais marés de amores que dão à costa 
És o marinheiro deste meu navio sem porto.
Por mais Primaveras de sorrisos
E noites de Verão serenas e tranquilas.
Procuro em ti estações partilhadas de desejos ocultos dentro da complexidade de uma alma sem rumo.
Durante estações que não deram flores, nem frutos
Na tenebrosa corrida irreversível do tempo
Encontrarei o conforto chuvoso de uma cara translúcida na espera de uma estação luminosa.
Por mais mares que navegarei utilizando a bússola confusa e nas constelações fictícias 
Anseio encontrar a terra que não me foi prometida.
Das quatro estações:
Terei como guia a esperança de encontrar o porto seguro da tua alma 
Naquele que é o desejo incerto de viver uma estação contigo. 

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Fado e Pecado






Nos tenebrosos aposentos mentais,
Debruço-me sob as possibilidades, os sonhos desmedidos, os amores perdidos.
Relembro abraços quentes, apaixonados e leais.
Relembro o olhar cúmplice, o riso contagiante e a palavra compreendida.
Relembro o que ao lembrar, sinto. O que se tenta esconder.
A lucidez procura o devaneio.
O conforto cômodo.
A noite singela.
O ser desumano.
O sonho incompleto.
Sinto a fantasia da humanidade e, no entanto,
Preciso do corpo gélido e animal do desenfreado tato humano
Cega nos espasmos do prazer momentâneo.
Surda na sensibilidade das vibrações sonoras. 
Muda naquilo que não deve ser pronunciado. 
Beijo traidor que é o sentimento condenado.
Condena-me o devaneio sentido.
A fraqueza carnal.
O arquejo cúmplice.
O beijo pecador.
O pecado consumado.
O sentimento duplamente condenado.

Fado e Pecado.




terça-feira, 6 de setembro de 2016

Cigarro Difuso


Sentada na cadeira convivo com o silêncio
Escuto o barulho harmonioso dos pensamentos
O batimento compassado se abomina
O café esfria enquanto esvoaça nuvens de fumo que sufoca a lacrimejante sentença.
Converso com as paredes geladas, com o vazios cheios de sons ensurdecedores.
Refugo-me no meio da multidão. Desapareço.
Poucos são os que me veem e contemplam o reflexo da amarga consciência.

Procuro a  doce possibilidade infinita que me impossibilita o contentamento.
O simples viver.
O simples estar.
O respirar mecanizado e dessincronizado com o renascer pulsante!
Debruço-me sobre a mesa sentindo o pesar dos ombros\
Dou golos controversos de um café frio e esquecido.
Levo mais uma vez a chávena aos lábios e sabe-me a amargo.
Olho ao redor e não encontro a chama para acender o meu solitário cigarro.
Não encontro a palavra nem o brilho dos olhos que sonham.
Não sou nem sonhadora nem sonho.
A esperança é vã.
Reflexo temido.



Inspiro o cheiro recordado e abro os olhos, dou por mim novamente a observar a melancólica beleza de uma cadeira vazia num café aleatório.