segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Devaneio

Abriste-me a porta de mãos vazias,
Deste-me o conforto material para me fazer sentir em casa.
No meio de palavras interpeladas em vinho e cigarros distraidamente pousados no cinzeiro, o vocábulo era fumo que pairava ao nosso redor.
A companhia que mata a solidão, o disfarçar da dor latente, da saudade amargurada, do pesar dos anos repletos de memórias fragmentadas que tudo desestabiliza em frases pouco lógicas e estáveis.
A essência do estar ao teu lado, não na mistura dos cigarros fumados e dos copos vazios mas,no silêncio em que tudo conversamos no barulho das palavras pronunciadas.
Quantos anos vale um minuto?
Para puder respirar.
Abraças-me na despedida como criança que rasgou o ventre da mãe demasiado cedo, criança que anseia renascer..
Colocar as bagagens à porta e dizer "entra,fica aqui".
Pedes-te em exaustão não convidar mais ninguém a entrar ou então a sair e  trancar a porta uma vez por todas.
Abandonar os copos outrora companheiros e os cigarros sufocantes.
Abandonar o suposto equilíbrio, a suposta farsa consentida.
Abandonar o feliz estagnar do meu pesar e do teu.
São apenas retalhos de uma colcha, momentos  como tantos quantos, para quê respirar e parar por um minuto a teu lado?
Para quê a oportunidade de parar por um minuto e te respirar, se tudo o que te assombra
reaparece quando saio pela porta e a tranco?!
Abandono-te.
Devaneio.
Abres-me a porta com as mãos vazias e tens tanto para dar.