sábado, 18 de março de 2017

Sem nexo

Esplanada vazia.
Sentada numa mesa igual as de mais.
Queria escrever-te sem grandes ambiguidades o esplendor de um silêncio cómodo de uma tarde sem nexo.
Puder temer o que está prestes a florir num jardim deserto.
Dizer-te sem rodeios o que não faz qualquer sentido tal como este deserto de palavras silenciosas que surgem como flores a brotar.
É uma mera tarde de primavera onde me esqueci onde me situo.
Nada mais passará de uma esplanada vazia, de uma pessoa silenciada na calamidade de uma nova estação,onde não se passa nada e o nada é tudo o que se passa.
Queria dizer-te,novamente, aquilo que nunca te disse.
E,quiçá, porventura nunca consiga dizer. Se não fosse a esplanada vazia, a primavera e as palavras que desertificaram numa razão sem nexo.
Puder gritar,sem me ouvir, às pessoas fictícias que me rodeiam, sem lhes ter nada para dizer, se não fosse o espaço amplo e vazio que gostaria de preencher.
Despedi-me à muito tempo das presenças da conveniência social e a materialização que acumula nos ombros já gastos, o insuportável.
E,desprendo-me quase inconscientemente do fenómeno natural de uma flor que brota na primavera .
Toda essa beleza inigualável e irreverente dos processos naturais, distanciando-me do poder de uma mente cega.
Será sempre uma primavera repetitiva, uma esplanada,uma mesa, um cigarro cansado em mão aborrecida e monótona de um reflexo interior paradoxal.

Não procuro a primavera nem a esplanada vazia.
Nem o significado ambíguo que poderia definir em ambos mundos.
Será sempre uma esplanada cheia de vazios e uma esplanada vazia de pessoas cheias.

No novo dia que nasce, o que nasceu, não nasce.
Talvez outras razões para me deslocar sem me mover... daquilo que se desertificou nas estações renováveis,modificadoras.
Já fui flor e já fui parte de esplanada cheia e cómoda e conveniente ..material e Real.
Prefiro o sem nexo e essa é a natureza distinta e amarga da primavera controversa e ambígua.
Queria dizer-te sem rodeios que a presença existencialista e humana de nada se equipara ao conceito interpretativo e cósmico de mundo.
Porém, é apenas uma mera tarde primaveril sem nexo.

quinta-feira, 2 de março de 2017

Onda que colide

Dou me palmadinhas nas costas e desvio o meu olhar derrotado do espelho.
Sorrio.
Será muito mais que isso.
Será muito mais que o pesar dos vossos sofrimentos que carrego aos ombros.
Fardo que seguro de bom grado.
Agradeço de lágrimas presas na garganta o sufoco representante da minha boa vontade e da vossa escolha em mim.
Cara trancada, lágrima por brotar, quem sou eu neste mundo que não contemplo.
Sufoco me neste mar que me rodeia
Neste templo de agitações marítimas e ventos cortantes.
Quero ver as ondas revoltas, sentir me em cada encontro à costa. Sentir aquilo que não expresso e que quiçá a natureza agoniante representa melhor que eu.
Filhos dos desígnios endemoniados, dos tropeços artimanhos, das palavras venenosamente verbalizadas, olhar matreiro e cínico,aguardando o desabar da arriba.
Mortes humanas ainda vivas, provenientes da opção maquiavélica e triunfante!!!
Pertenço-me sem me pertencer.
E cada fragmento meu é vosso amigos...
Abraço de bom grado este pesar que voces sentem porque o meu mar é revolto e observo de lágrima invisível a inigualável beleza da onda que colide.