Ceguei por completo.
E neste caminho infindável repleto de encruzilhadas.
O visível torna-se negro e imperceptível.
Passo a passo, caminho de forma serena.
O simples estar e não conseguindo observar os cenários que se avizinham.
A estrada é preta e as paredes são amarelas e eu... caminho serenamente.
No plácido intervalo de tempo observo as fissuras da estrada e os buracos que a compõem..
E nesse instante..retomo a caminhada.
Os pássaros aqui já não passam e as flores secaram perdendo a delicadeza de outrora.
As nuvens estão carregadas de um cinzento já conhecido.
Sinto as pernas a fraquejar de cansaço, o batimento a acelerar.
O fim é o começo.
Ceguei.
E vejo um pássaro a sobrevoar-me. Olha-me de passagem mas não fica. E eu voo com ele em despedida!
As árvores são verdes e falam ao vento secando quando passo.
Ceguei na caminhada descodificada.
No percurso que nada permanece e tal como as estações cinzentas mutáveis, o caminho é infindável.
Ceguei.. e o sol ofusca-me, os olhos ardem-me.
As pálpebras rasgam-se, cego, caminho.
Não há fim nesta trajetória. Nem pássaro que voa, nem sol que ilumine, nem cor amarela nas paredes, nem estrada conturbada.
Serenamente caminho cegando na passagem, adormecendo nos sentidos, escureço.
Cego na interminável hora.
Contemplo tudo isto e, no entanto, caminho serenamente.
Batimento imprevisível, apertado, passo iluminado.
Imagino-me a ser pásssaro que voa despreocupado no livre voo que segue, desvendando ao longe o fim da estrada.
Quero ser pássaro livre na interminável hora.
E cego.